ASAS DEPENADAS
ASAS DEPENADAS
Quando menino, em meio a
minha liberdade de passos, corria pela fazenda e num destes dias inesperados,
vi asas depenadas voando para o telhado.
Era algo surreal, como pode
ser que asas pudessem ser depenadas a tal ponto de não ter corpo e nem
resguardar a forma, para assim poder voar e safar-se do destino imposto.
Sempre o destino é algo
infligido. Sempre! ...
Penas de uma ave que sabia
voar; poderia ser; foi talvez a confiança absurda da ave ao humano que a deixou
sem asas; neste momento somente percebia pensamentos despencando de minha torpe
razão... meus sentimentos estavam tão confusos que queria descobrir o tal feitor
para poder retribuir-lhe no mesmo tom...
Estava brotando raiva e ao
mesmo tempo tingia o meu olhar antes enternecido pela ausência do que poderia
ser.... àquelas asas depenadas...
Queria tecer sonhos para
encobrir aquela realidade cruel que surgia diante de meus passos...
De repente o sino tocou,
era a minha avó, chamando a todos para o almoço... Nossa! Como a hora corre!
...
Queria dizer a todos o
ocorrido, mas quando passando pela cozinha, vi algo diferente na enorme panela
de barro, pensei que poderia ser algo novo, de sabor nunca antes provado.... Um
digno mistério a ser desvelado!
É certo que a minha alma
estava humedecida com as minhas lágrimas, por saber que uma ave não mais iria
voar e ao mesmo tempo, inundava uma tremenda curiosidade para saber do tal novo
sabor escondido nas entranhas daquela enorme panela de barro...
De pronto, sentado à mesa,
com todos; eu ansioso por provar do tal mistério... num momento marcante que
surgira, foi-me a realidade de vez... o meu voo de menino, de mil sentimentos
confusos, deparara-se com uma evidência incontestável...
Se não fora porque a minha
barriga, sabia roncar e clamara-me por alimentar-me de coisas novas, ampliando
o meu horizonte gastronômico; da mesa correria; sem parar em busca da minha
sensibilidade ofendida...
La estava o corpo
deliciosamente empapado do caldo dos deuses e com intensão de ganhar-me pelo
seu sabor eminente...
As asas se foram voando da
minha mente, e o corpo ali presente, tocou-me com o inesperado; uma ave grande,
sem asa, asada, com um sabor único que magicamente combinara com legumes,
verduras e tonalidades de frutas.
Enfim, degustei a morte,
mas em mim estava a esperança de uma certeza que ainda seria reforçada um dia:
- Sim! As asas podem voar
sem o corpo; e aquele almoço estava simplesmente divino! Ave!
(As Histórias de um Menino - Lúcio Alex.
Belmonte)
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