Autofagia Intelectual
Todavia, irei recordar-me de tudo que
amanheceu em minha mente.
Escreverei cada frase de forma diferente,
pois, no processo de deleite da plena criação e a transcrição do produto da
inspiração, transpirarei esquecimentos.
Agora, já refeito das perdas neste intento,
escrevo não aquilo que amanheci sabendo, mas o tardio aprendizado que intui ter
retido...
Palavras que se diferem por letras, algumas tão
semelhantes, mas de conteúdos distintos, tão distintos que devo recordar a qual
eleger; palavra que expresse em frase, o discurso existencial do momento, do
meu momento, que não é somente meu.
Pausa intencional para as correções;
dispensando a neutralidade, usando a intencionalidade para dar forma
compreensível a inspiração.
Retomando a escrita; descrição de um mundo
covarde, na valentia de se ter esperança de uma versão melhor de si mesmo e do
entorno. Entorno este não moldável, esculpido nas possibilidades, limitações e
avanços em meio a retrocessos analíticos e ou atônitos da realidade tão falsa
como a percepção de um bêbado, alegre este, por descordar dos resultados,
inabilitando-se na descrição das causas e aperceber-se nas conseqüências.
Sim, sou a favor do uso do trema...
Abjeto social, do absinto diatópico necessário
para existir; cambaleante de vontades e tremulo de conjecturas impostas... a
pura autofagia intelectual.
Leio a mim mesmo, num idioma que traduz tanto
o conhecimento de mim, a falta do mesmo e a impermanência dos relacionamentos
casuais ou não.
O tempo, talvez, seja simplesmente a extinção
do espaço; ou a ampliação do mesmo. Tudo é inexplicável até sê-lo vivido,
existido além de um instante; permanências transitórias das percepções da
verdade; dela mesma em sua derradeira prisão de decisões e aplicações. Um rabo
é um rabo, mas pode ser de um elefante ou de um mico-leão...
O que creio que sei, até este momento, é que, a
insatisfação humana é que o nascer implica em distanciar-se deste ato para
propiciar o existir; e o existir se projeta do morrer. Está aproximação permite
ao humano a inigualável verdade desvelada que o tempo é curto o suficiente para
que durante a existência humana se perceba que morreram muitos passos, mas
ainda se está aqui. E quando não, se estará em outros lugares, “sub-atomicamente”
diferente de todas as versões melhores de si mesmo. Pó! ...
O pó que retorna já não é o esmo que
compactamente foi criado; desfarelado pelos percalços da aprendizagem humana; o
pó, já não se percebe só. Estará eterno nas recordações de amores por muito
tempo e nos desamores por tempo demais do que o ato da absolvição. Ninguém é
santo...
Saindo da “otáriolândia” com outro passaporte.
Nela a origem é questionável; ou pior, de origem questionável.
Ter-se tanta fome física, sucumbe a fome
espiritual por não se nutrir de efetividade. Talvez seja esta, a arma social
mais eficaz em favor do mau; abandonar o estado humano na formação da verdade e
distribuir migalhas ideológicas das perversões de palavras e ideias...
sociopatia em cargos de poder...
Pausa para o desague de lágrimas diante desta
realidade distópica, sendo a mesma tópica... porque penso eu que, a má
realidade é sempre ectópica. A descrição falada sempre é fora do lugar habitual
do senso comum.
Aonde se encaminha a humanidade se não a busca
da morada perdida...
O humano perdeu-se de si, a própria percepção
de humanidade é simplesmente, hoje, funcional...
O mais próximo que a maldita realidade oferece
é o cajado da sociopatia para dar-se a impressão que onde está e como está é a
absoluta propriedade da conquista pessoal por subjugação.
Humano funcional, é a maior traição da
perfeição. Deixou-se de errar nas buscas dos acertos para encadear-se nos
acertos dos erros.
Fazendo o ter, ser mais importante do que o
ser existência, compatível em sua essência de criação.
O Eterno cria e o humano descobre....
Descobre-se nu!
Nudez de espírito sendo humano, ilimitado nas
possibilidades e limitado no tempo e espaço de ser tudo aquilo que se pode ser.
Eu amo demais como o Eterno se apresenta; de
uma forma pessoal, usa a intrínseca verdade das palavras, para se dar a
entender ao limitado a quem ELE ama.
O limitado quer saber o nome do Eterno e ELE
responde: Diga ao detentor do poder momentâneo que eu: - Serei o que decidir
ser.
Belo é este desprendimento do Eterno; dar-se-á
a oportunidade de compreensão às indagações, até mesmo, imaginativamente
produzida por pronuncias de outros, em outros momentos. Sim, o Eterno é amor; o
humano tem amor. Se o sente ou não, é uma questão de decisão...
Neste processo de catarse, vou me acalmando,
perdendo-me de mim mesmo e encontrando-me em paz...
Vi, dias nascerem, aquecerem o meu ser;
tocando-me em momentos felizes e em outros nem tanto. O que aprendi apreciando
o transcurso é que o dia que nasceu, existiu, sempre se vai. Nunca é igual...
A minha percepção mesmo sendo adoravelmente
mutável, por prisão de outros na qual me coloquei, eu percebo tudo igual e não
vejo a essência da mutação. Não é adulterar a essência, mas sim, vivenciá-la
durante a existência de acordo com as novas versões de si mesmo.
Sempre será uma questão de decisão e execução.
A solidão nunca aquece o frio da
não-convivência. A hipotermia social é tão notória que inventamos não a vê-la;
somente admiti-la para outros...
Egoísmo entre semelhantes, iguais nos erros
acalentados e esperançosamente diferentes nos acertos que buscam ou neles tropeçam...
Pausa para sentir as lágrimas sendo aquecidas
pelo iniciante raio solar...
Evaporam-se razões, o ódio da inércia se
apodera, a reconstrução necessita de reparos e o confronto na inabilidade de
seguir, constitui-se em cicatrizes tão relevantes que urge dar-nos a elas, mais
que um sentido; um relato fidedigno da realidade registrada. Sim, foi assim!
...
Lagrimações...
(Escritor Lúcio Alex. Belmonte – A Essência do Óbvio)
31/03/22 – 8:28 - Numa quinta-feira, num outro país.
EscritorLucioBelmonte@live.com
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